No teu corpo eu fui chuva

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

     "São 02h47 e eu ainda não consegui dormir. Já comi, já li, já escrevi e nada me fez ter sono, nem mesmo a tevê ligada com o volume quase no zero que sempre me fazia adormecer. Já devo ter tomado uns quatro sachês de chá e nada, ainda. 
     Agora são 03h00 e a única coisa que eu consigo ver é você. Tudo o que eu comi foram as coisas que você gosta, tudo o que eu li foram os livros que você lê e tudo o que eu escrevi era relacionado a você. Até meus quatro sachês de chá eram da sua marca favorita. Será que você não poderia aparecer por aqui pra poder me esquentar nessa chuva tão forte que cai lá fora? Me sinto tão sozinha longe de você, que é como se cada gota de chuva que escorre lentamente pela janela do apartamento 117 do primeiro andar pudesse materializar-lhe. E assim mesmo, acompanhando as gotas da chuva e tomando um chocolate quente com canela, eu vou ligar pra você pra dizer o quanto você me faz falta e o quanto queria te ter aqui, pertinho de mim, para poder recostar-me sobre seu peito nu aquecido pelos meus cabelos desgrenhados de tanto você passar a mão. 
     Queria ter você aqui pra poder sentir aquele abraço que por uns segundos me faz ver o mundo parar. Queria seu cheiro grudado nos meus braços porque eu não consegui largar você um segundo desde que você apareceu. Queria você aqui para eu reclamar dos chocolates que você trouxe. 
     E eu liguei. E chorei no mesmo momento que ouvi sua voz aveludada dizendo-me que não poderia mais estar aqui. Chorei que nem criança, mesmo, porque isso não poderia ser possível. O que seria de mim agora, nessa madrugada longa e fria. Quem ia ser o herói que mata as baratas e salva o meu dia? Eu chorei por pensar em você só, nunca quis te ver solitário, e nunca quis que você fosse de mais ninguém.
     A melhor parte da madrugada foi ver que você mais uma vez me fez chorar em vão, porque são exatas 04h23 minutos e a maçaneta da porta se mexeu enquanto eu estava afogada nos travesseiros assistindo aquelas comédias românticas que você julga serem uma besteira. Nem reparei que você tirou os chinelos quando entrou (o que eu sempre mando você fazer e nunca faz), porque eu estava muito ocupada tentando decifrar seu sorriso segurando uma barra do nosso chocolate preferido. Não sabia se eu queria abraçar-lhe ou matar-lhe, ou se na verdade queria matar-lhe de abraços. Só consegui puxa-lo pela camisa e beijar-lhe com a saudade que estava me sufocando. 
     Como foi bom sentir sua mão me abraçando e acalmando a tempestade que havia em mim, como foi bom sentir a sua respiração atravessando o meu pescoço. Agora a chuva é só do lado de fora, porque no teu corpo eu fui chuva, que foi um ótimo jeito de me encontrar, de me deixar viver."

Amanda Pacheco



1 comentários:

  1. Blog encantador,gostei do que vi e li,e desde já lhe dou os parabéns,
    também agradeço por partilhar o seu saber, se achar que merece a pena visitar o Peregrino E Servo,também se achar que mereço e se o desejar faça parte dos meus amigos virtuais faça-o de maneira a que possa encontrar o seu blog,irei seguir também o seu blog.
    Deixo os meus cumprimentos, e muita paz.
    Sou António Batalha.

    ResponderExcluir







Design e código feitos por Julie Duarte. A cópia total ou parcial são proibidas, assim como retirar os créditos.
Gostou desse layout? Então visite o blog Julie de batom e escolha o seu!