(Sobre)vivendo

terça-feira, 6 de novembro de 2012

"O coração dela gritava por socorro. Cada vez que seus olhos percorriam aquela folha que dizia "Me deixe em paz, vou viver a minha vida, você não é o bastante pra mim", as lágrimas escorriam como escorrem do rosto de uma criança que se perde da sua mãe. Eu a entendo, sei como a dor de ter a perda de um grande amor.
Todas as vezes que acordava, ela pensava nele, e como se já não estivesse satisfeita, lia e relia aquele papel (que agora era marcado de lágrimas) em busca de uma resposta para aquele fim que aparentemente não chegaria nunca. Eu, que vi as coisas acontecerem, pensei que ela fosse morrer. Já não sorria mais e nem se importava se as coisas estavam certas ou erradas. Foi a primeira vez que vi alguém sentir tanta falta de outrem. Seus cabelos desgrenhados sobre o rosto nos diziam que ela não sera mais nada e que não seria nem capaz de se impor com um mínimo de dignidade. Ninguém mais a via com aquele sorriso de felicidade, aquele sorriso que dizia que as coisas estavam em plena ordem. O máximo que se conseguia vez em quando, era um meio-sorriso que dizia "me deixe em paz/eu não quero falar sobre isso". Foi se afundando em lágrimas a cada dia que se passava e, com o tempo foi ficando dependente daquele ex papel branco. E lia como se aquilo fosse uma piada e a qualquer momento ele apareceria com flores e diria que aquilo não passou de uma brincadeira de mau-gosto. Mas isso não aconteceu e ela se fechou em um universo que mais ninguém conseguia entrar. E ao seu redor as pessoas e as coisas iam se perdendo, decaindo. Aquilo não podia continuar do jeito que estava, ela ia terminar morrendo em matéria (já que o seu espírito estava quase morto, mesmo). 
Até a própria já havia percebido que sua atitude de morrer pro mundo era errada. O tempo foi passando e um belo dia ela resolveu abrir sua caixa (lotada) de e-mails, e descendo a barra de rolagem sem vontade nenhuma, achou um e-mal de uma boa e velha amiga, convidando-a para uma viagem do grupo de amigas que há muito não trocava palavras. Se surpreendeu quando sentiu a vontade de aceitar o convite. Aceitou, mas ainda com o receio e com a falta de ânimo de se preparar e tirar o carro da garagem, no entanto viu que era necessário fazê-lo. E fez.
E o tempo foi curando-a, e quando se deu conta, estava rasgando aquele papel molhado e amassado que havia praticamente destruído sua vida. Estava aos poucos se livrando daquela dependência do vazio. Depois, voltou a responder todos os e-mails e voltou a sair e se relacionar com novas pessoas. Ela, numa reviravolta surpreendente, voltou a sorrir e a falar tranquilamente a respeito do assunto. Já não se importava mais com ele, nem sequer pensava no mesmo. 
O tempo a ensinou que sobreviver não era tão agradável, então ela preferiu viver. E foi feliz. Seu sorriso voltou a transmitir felicidade. E da última vez que a vi, soube que já tinha até um novo amor.
Nesses dias, pensando nessa história, tive a certeza de que nada é tão ruim que não possa (re)começar e se (re)inventar."

Amanda Pacheco


Observação: A foto é minha, mas o texto não tem NENHUMA RELAÇÃO COMIGO. Obrigada

0 comentários:

Postar um comentário







Design e código feitos por Julie Duarte. A cópia total ou parcial são proibidas, assim como retirar os créditos.
Gostou desse layout? Então visite o blog Julie de batom e escolha o seu!